quinta-feira, 15 de abril de 2010

O FIM

DEPOIS DA MORTE de Virgínia, a Sra. Clemm continuou a tratar de Poe, que pouco a pouco voltou a um estado de saúde um tanto melhor. A Sra. Shew auxiliou-a nisso, mas se viu por fim obrigada a retirar-se, devido às exigências amorosas de seu paciente. Ajudado por seus amigos, mais uma vez começou Poe a aparecer em público.

Em Fordham, escrevera ele "Eureka", longo "poema em prosa", de forma semicientífica e metafísica, que foi publicado em março de 1848, por Geo B. Putnam, de Nova York. Foi este o décimo e último dos livros do poeta, publicados durante sua vida, embora se saiba existir uma ediçao de seus contos, datada de 1849. A natureza de "Eureka" impediu-o de se tornar popular. Poe começou a fazer então conferências, depois de uma viagem a Filadélfia, no verão de 1847, quando outra recaída na bebida quase se revelou fatal. O fim de sua vida foi assinalado pela publicação de alguns de seus mais notáveis poemas, "Os Sinos", "Ulalume", "Annabel Lee" e outros, e por sua paixão por diversas mulheres.

Durante várias viagens, a fim de pronunciar conferências em Lowell, Massachusets, e Providência, em Rhode Island, ficou ele conhecendo Annie Richmond e Sara Helen Whitman, a primeira, uma mulher casada, e a última, viúva, de certa reputação literária e de considerável encanto.

Depois de uma visita a Richmond, na 41 Virgínia, no verão de 1848, na qual tentou travar um duelo com um tal Daniel, redator de um jornal de Richmond, de novo entregou-se à bebida. Começou a fazer a corte à Sra. Whitman, visitando-a muitas vezes em Providência e mantendo uma intensa correspondência. Por fim obteve o seu hesitante consentimento para casar-se com ele, sob a condição de que se abstivesse da bebida. Porém, então num estado de triste aturdimento, achava-se "apaixonado", ou tão escravizado à simpatia da Sra. Richmond (1) que, numa tentativa de pôr fim aos seus impossíveis problemas amorosos, tentou suicidar-se, ingerindo láudano, em Boston, em novembro de 1848. A dose foi apenas um vomitório e ele sobreviveu.

No dia seguinte, num estado que raiava pela loucura, apareceu em Providência e suplicou à Sra. Whitman que cumprisse sua promessa. Ela; ao que parece, na esperança de talvez salvá-lo, estava inclinada a casar com o poeta, mas a oposição dos parentes e outra volta a bebedice da parte de Poe, finalmente levaram-na a despedi-lo . Grandemente pesaroso voltou para Fordham, na mesma noite.

Para os confortadores cuidados da pobre da senhora Clemm, que se preparava com relutância para acholher uma noiva. Poe, tentou abafar o negócio e liquidá-lo com certa fanfarronice. Haviam divulgado, porém, notícias que causaram considerável escândalo. Ele se pôs então a escrever com renovada atividade, enquanto continuava sua correspondência com a Sra. Richmond. A infeliz ,persistia em acompanhar-lhe os passos como um cão.

Revistas que haviam aceitado seu trabalho faliam, ou suspendiam pagamento, sua saúde novamente piorou, e a Sra. Clemm viu-se obrigada a cuidar dele, em meio do delírio. Finalmente um melhor, mas simples fantasma de si mesmo, empreendeu reviver seu plano de uma revista, O Estilo, e, com capital fornecido por um admirador do Oeste, E. H. N. Patterson, partiu para Richmond (Virgínia), na primavera de 1849, esperando obter auxilio ali de velhos amigo.

A Sra. Clemm ficou em Nova York, em casa duma poetisa, em Brooklyn, que devia favores a Poe. A caminho de Richmond, Poe se deteve em Filadélfia, onde começou de novo a beber, andando a vagar num estado de demência .Por fim foi salvo da prisão e tirado das ruas por alguns amigos fiéis, que reuniram a quantia suficiente para enviá-lo a seu destino.

Avisado pelo que fora uma quase aproximação da morte em Filadélfia, Poe lutou com todas as forças que lhe restavam para abster-se da bebida, e durante algum tempo conseguiu-o. Em Richmond, pôde, com auxílio de velhos amigos e de outras pessoas, que agora reconheciam tanto sua fraqueza quanto seu gênio, encenar uma breve rentrée.

Fez conferências em Richmond e em Norfolk com grande êxito; apareceu com aplausos e dignidade na sociedade, e se tornou, finalmente, depois de alguma dificuldade mais uma vez merecedor de obter a promessa de casamento de seu amor da mocidade, Elmira Royster - agora Sra. A. B. Shelton, viúva em boa situação.

Os preparativos para o casamento prosseguiram. A data foi marcada. Por algum tempo, parecia que o romance da mocidade do poeta com Elmira ia merecer a recompensa de sua mão e de un vultoso quinhão da viúva, em meio da vida.
Cartas foram escritas à Sra. Clemm participando o estado de coisas, e Poe estava pronto a voltar a Nova York, a fim de trazê-la a Richmond, para assistir ao casamento. Pouca dúvida pode haver de que em todos esse planos visse Poe não apenas a volta de sua "perdida Lenora", mas uma velhice confortável, preparada para a Sra. Clemm, refúgio contra o mundo e vitória sobre a pobreza. Até o fim, escrevia ele à Sra. Clemm, dizendo que ainda amava a Sra. Annie Richmond e desejava que o "Sr. R. " morresse.

Com esta carta, uma das últimas que escreveu, a curiosa história de seus amores acaba em contradição e ambiguidade, como começara. Tomando algum pouco dinheiro, que recebera do produto de uma conferência, realizada pouco antes de sua partida, Poe deixou Richmond, de manhã bem cedo, a 23 de setembro de 1849. Passara a tarde anterior com a Sra. Shelton e o casamento fora marcado para 1o. de outubro.

Poe não conseguira abster-se completamente de beber enquanto estivera em Richmond, e se encontrava indubitavelmente num estado anormal, quando partiu. O inquérito, porém, mostra que ele se achava perfeitamente sóbrio naquela ocasião particular. Viajou de navio até Baltimore e ali chegou a 29 de setembro. ( que lhe aconteceu, naquela cidade, não pôde ser exatamente afirmado até hoje. Desenrolava-se uma eleição e a maioria das provas aponta o fato de que ele começou a beber e caiu nas mãos dumi quadrilha de repeaters,(2) que provavelmente lhe ministraram algum licor com drogas e o fizeram votar.

A três de outubro, foi encontrado pelo Dr. James E. Snodgrass, velho amigo, em horrível estado na sórdida taberna da Rua Lombard. Mandando avisar um parente de Poe, o Dr. Snodgrass levou o poeta, agora inconsciente e morimbundo, num carro, até o Hospital Washington e pô-lo sob os cuidados do Dr. J. J. Moran, que era o médico-residente.

Seguiram-se muitos dias de delírio, com apenas poucos intervalos de lucidez parcial. Chamava repetidamente por um tal "Reynolds" e revelava todos os indícios de extremo desespero.

Finalmente, na manha de domingo, 7 de outubro de 1849, aquietou-se e pareceu repousar por breve tempo. Depois, movendo devagar a cabeça, disse: "Senhor ajudai minha pobre alma." E assim morreu, como vivera - em grande miséria e tragicamente. Agosto de 1927. O túmulo de Edgar A. Poe no adro da igreja de Westminster, em Baltimore, Maryland.

(1) As relações amorosas de Poe integram uma enorme bibliografia, iniciada pelas memórias ou pelas fábulas escritas posteriormente por várias das protagonistas, que não fizeram mais do que aumentar a confusão sobre este tema. Edmund Gosse resumiu humoristicamente nas seguintes palavras: "Que Poe foi um pertinaz enamorado, constitui um outro encargo irrefutável. Cortejou muitas mulheres, porém sem acarretar dano a nenhuma. A todas agradou muitissimo. Houve, pelo menos, uma duzia, e o orgulho que cada uma delas demonstra em suas memórias pelas atenções de Poe somente é igualado pelo seu ódio para com as outras onze." - fim da nota de rodapé. 

(2) Eleitores que, nos Estados Unidos, votam duas vezes na mesma eleição.

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