quinta-feira, 15 de abril de 2010

MATURIDADE

ENTREMENTES havia-se Poe assegurado um emprego com William E. Burton, editor do Burton's Gentleman's Magazine. O Sr. Burton era um inglês, ator, nas melhores condições para a farsa grosseira, empresário teatral e jornalista.

Poe colaborou nesse magazine, com, resenhas bibliográficas, artigos sobre esporte, pelo menos com cinco , contos notáveis e alguns poemas, sendo ''Para Alguém no Paraíso'' o mais notável destes. Foi no magazine de Burton que apareceram "A Queda do Solar de Usber", "William Wilson" e "MoreIa". Ao mesmo tempo Poe correspondia-se com várias figuras literárias, entre as quais era Washington Irving a mais eminente. A ligação de Poe com Burton não durou muito tempo. Houve numerosos atritos entre os dois.

Duma feita, Poe se retirou, mas foi induzido a voltar. Seu salário era pequeno, seu trabalho inadequado e um tanto intermitente. Passava novamente mal de saúde, não sendo certo se devido, em parte, ao uso de excitantes. De qualquer forma, ele e o Sr. Burton não podiam concordar. Este último vendeu seu magazine a George Rex Graham, em outubro de 1840, e Poe foi conservado pelo novo editor um dos mais capazes jornalistas da época.

Devido à má saúde não assume Poe suas funções no novo magazine de Graham senão em janeiro de 1841, quando se tornam plenamente evidentes em suas páginas traços de sua pena. Estava ele então morando numa pequena casa de tijolos, na junção da Rua Coates e Fairmont Drive, em Filadélfia, para onde se tinha mudado, provavelmente no outono de 1839. Foi dessa residência que ele deu a lume, no outubro de 1840, seu "Prospecto do Penn Magazine, jornal literário mensal, a ser redigido e publicado na cidade de Filadélfia, por Edgar A. Poe".

Neste prospecto as teorias de Poe, a respeito de um magazine, são completamente postas a claro. Esperava receber bastantes assinaturas para prover-se de fundos, a fim de lançar a empresa. Numerosíssimas pessoas subscreveram, mas os negócios do editor em perspectiva estavam em tais condições que ele foi forçado a abandonar seu plano, a fim de aceitar uma posição de assalariado, junto ao Sr. Graham. O Penn Magazine foi, em consequência, adiado, ao passo que Poe aceitava um lugar em casa de Graham, por 800 dólares por ano. -nota de ledora : legenda de gravura: Filadélfia, Pensilvânia, nos tempos de Poe.

O desenho mostra o rio Schnykill e o Porque Fairmont perto da casa do escritor. - fim da nota. 35 O êxito do Graham's Magazine foi fenomenal. As assinaturas montaram de 5 000 a 40 000, em cerca de dezoito meses, sendo o aumento devido à capacidade redatorial de Poe, ao número de artigos e poemas garantidos pela colaboração de notáveis escritores, por ele solicitada, e pela política do Sr. Graham, que era profuso nas ilustrações e bastante generoso nos honorários aos autores.

O período da sociedade de Poe com o Sr. Graham, que durou de janeiro de 1841 a abril de 1842, foi o período financeiro mais folgado de sua vida. Seus lucros eram pequenos, mas suficientes para mantê-lo e à sua família com algum conforto. Foi por esta epoca que ele iniciou o conto de raciocínio e publicou "Os Crimes da Rua Morgue" e outras estórias de crime e sua descoberta. Interessou-se também bastante por criptogramas e sua solução, e, em 1842, publicou no Dollar Newspaper, a 20 de junho daquele ano, sua estória do "Escaravelho de Ouro", na na qúal a solução dum papel cifrado faz parte do enredo.
Por esta estória recebeu um prêmio de 100 dólares. Alguns dos mais reputados trabalhos de Poe apareceram no magazine de Graham e atraíram assinalada atenção. Começou então a tornar-se vasamente conhecido como competente redator, crítico brilhante e severo, escritor de estórias arrepiantes e poeta. Sua sociedade com Graham foi, porém, de curta duração. Não suportava sua posiçao subalterna, com tão pequeno salário, esperançoso de lançar seu magazine próprio, e também deu para beber.

Em abril de 1842, suas "irregularidades" levaram o Sr. Graham a empregar Rufus Wilmot Griswold, o mais notável antologista americano daquela época, e competentíssimo redator, em lugar de Poe. Encontrando um dia Griswold na sua cadeira, Poe deixou as oficinas do magazine e nunca mais voltou, embora continuasse a colaborar para ele, de vez em quando. Em breve se tornou um livre-atirador, escrevia onde e quando podia, tentou obter um emprego do Governo, na Alfândega de Filadélfia, por meio de amigos em Washington, e de novo tentou lançar seu próprio magazine, agora projetado como O Estilo.

Estava prestes a ser bem sucedido, mas uma visita a Washington, em março de 1843, quando infelizmente se embebedou e exibiu sua fraqueza, mesmo na Casa Branca, arruinou suas mais profundas esperanças. Até mesmo seu melhor amigo, F. W. Thomas, novelista secundário e político do tempo, nada mais podia fazer por ele. O infortúnio de agora por diante lhe segue os passos. - nota da ledora; legenda de foto: A casa de Poe, "Spring Garden", Filadélfia. Somente a parte baixa se erguia no tempo de Poe.( na foto, a casa é apresentada com três andades) - fim da nota.

Sua mulher Virgínia estava a morrer de tuberculose e tinha frequentes hemorragias. Ele mesmo começou a recorrer à bebida mais do que antes. Há também algumas provas de que se haja utilizado de ópio. Foi mandado para Saratoga Springs, para recuperar a saúde, e voltou a Filadélfia, onde quase morreu duma lesão cardíaca. Naquela ocasião, 1844, estavam residindo os Poe no n.0 234 (agora 530) da Rua Sete do Norte, em Filadélfia, numa casa ainda hoje de pé. Ali, embora visitado por vários amigos leais, entre os quais se contavam o romancista Capitão Mayne Reid, George Rex Graham, o gravador Sartain, o editor Louis Godey, o ilustrador F. O. C. Darley, o poeta Hirst, o editor Thomas Clarke e outros, experimentava Poe os tormentos da pobreza e do desespero.

Correspondia-se com James Russell Lowell e outras pessoas notáveis, mas era incapaz, por várias causas, largamente devidas a seu temperamento e a suas condições físicas, de lutar contra o mundo. Certa vez, no outono de 1843, fez uma tentativa abortada de publicar nova edição de seus contos, com o título de Romances em Prosa de Edgar A. Poe. Houve uma pequena edição em brochura, para ser vendida a 12 e meio cêntimos, mas o n.0 1, contendo "Os Crimes da Rua Morgue" e "O Homem que Foi Desmanchado", é o único da série que se saiba tenha aparecido, embora se conheça a existência dum exemplar, contendo apenas a primeira estória.

Do ponto de vista do colecionador é este o mais raro de todos os volumes de Poe. O opúsculo foi o sétimo dos trabalhos impressos de Poe. Nenhuma recompensa lhe adveio Reduzido à mais horrenda necessidade e encontrando todos os caminhos fechados para si, em Filadélfia, resolveu então voltar para Nova York. A Sra. Clemm ficou, para fechar a casa, e a 6 de abril de 1844, levando sua mulher inválida consigo, Poe seguiu para a cidade de Nova York.

Chegou ali na mesma noite, com quatro dólares e meio nos bolsos e sem fins definidos. Poe e sua mulher doente acharam abrigo numa humilde pensão da Rua Greenwich, n.0 130. Com imediata necessidade de dinheiro, lançou uma de suas pilhérias favoritas, escrevendo uma estória de falsas notícias para o Sun, de Nova York, mais tarde publicada com o titulo de "A Baleia do Balão". Tais "balelas" eram "populares" naquele tempo e favorecidas pelos diretores de jornais. A estória era hábil, é notável mesmo agora, e divertiu milhares de pessoas naquele tempo - com grande satisfação para Poe.

O dinheiro assim ganho possibilitou a vinda da Sra. Clemm, de Filadélfia, para juntar aos dois em Nova York. Deixando a família na pensão da Rua Greenwich, Poe passou a morar sozinho então, na pensão duma Sra. Foster, n.0 4, da Rua Ana. Durante a primavera e o verão de 1844, conseguiu arranjar o bastante, com artigos vendidos, alguns dos quais apareceram no Columbia Spy (Pa.), no Godey's Lady's Book, no Ladies' Home Journal da época, para manter-se e manter dificilmente a família.

A saúde de Virgínia piorava constantemente e, no começo do verão de 1844, toda a família se mudou para uma fazenda, localizada na estrada de Bloomingdale, onde é hoje a Rua 84 e Broadway. A fazenda era de propriedade dum bondoso casal de irlandeses, com numerosa família, os Brennans. Ali, durante uns poucos meses, no que era então uma encantadora solidão rural, no formoso vale Hudson, parece que Poe gozou breve período de paz.

Durante este intervalo, compôs "O Corvo", ou antes, deu-lhe a redação final, pois que se sabe que poema já existia em versões mais antigas, que remontam a 1842. A própria idéia do corvo foi tirada do Barnaby Budge. Durante o verão, manteve Poe correspondência com James Russel Lowell que estava escrevendo uma curta biografia de Poe, de Graham, e com o Dr. Thomas Holley Chivers, poeta da Geórgia, cuja obra influenciou certamente o autor de "O Corvo”.

No outono , achou-se o poeta novamente sem recursos e a Sra. Clemm poe-se então, decididamente, em campo para arranjar-lhe allgum trabalho pago. Foi ter com Nathaniel P. Willis, então diretor do Evening Mirror, de Nova York, e persuadiu-o a empregar Poe em funções redatoriais de menos importância. Em certo dia do outono de 1844, a família mudou-se de novo para uma pensão, na cidade, na rua da Amizade número 15, em Nova York, onde ocuparam poucos quartos. Poe continuou a fornecer trabalhos de ocasião para o Willis, e também pelas colunas do Mirror, encontrou a oportunidade de chamar a atenção sobre si, dando umas notas favorávies das poesias de Miss Barrett ( mais tarde Sra. Robert Browning) e metendo-se num infeliz ataque contra Longfellow, conhecido como "A Pequena Guerra de Longfellow", com numerosas repercursões.

Em fins de 1844, estava Poe prestes a cortar relações com Willis, que se conservou seu amigo fiel até o fim. Por intermédio dos bons ofícios de Lowell, fora Poe posto em contacto com alguns jornalistas secundários das vizinhanças de Nova York, que se preparavam para lançar um novo semanário, que se chamaria o Broadway Journal. Para esse jornal foi Poe contratado, com funções reditoriais mais importantes do que as que lhe poderia oferecer Willis. Em janeiro de 1845, o poema de Poe "O Corvo" foi publicado anonimamente no Evening Mirror, antes de seu aparecimento na Amencan Whig Review, de fevereiro. Provocou furor, e no sábado, 8 de fevereiro de 1845, o Sr. Willis tornou a publicá-lo, sob o nome do autor, no Evening Mirror.

A reputação de Poe tomou imediatamente o aspecto da fama que nunca mais veio a perder. É inútil dizer que nenhum poema na América jamais se tornara tão popular. O poeta continuou a redigir o Broadway Journal, onde prosseguiu na polêmica com Longfellow, resenhou livros, publicou e republicou suas poesias, escreveu resenhas dramáticas e críticas literária, e reimprimiu muitas de suas estórias, agora mais avidamente lidas, por provirem de uma pena famosa.

Estava-se também preparando para tornar-se proprietário do Broadway Journal e, com este fim, endividou-se, enquanto querelava com Briggs, um de seus sócios. Começou então, também, pela primeira vez, desde seus antigos dias de Richmond, a levar uma vida menos solitária e a frequentar uma sociedade semiliterária e artística. Poe foi bastante visto, durante o inverno de 1845, nos "salões" de vários escritores e de menores luminares da sociedade de Nova York, que eram conhecidos como "os literatos".

Por intermédio do Sr. Willis conheceu uma tal Sra. Fanny Osgood, mulher de um artista de alguma importância e poetisa de segunda ordem, com quem ele logo travou uma amizade íntima, senão amorosa. Acompanhava-a por toda parte, a tal ponto que ela se viu finalmente obrigada, por causa do escândalo provocado e por causa de seu próprio estado de tuberculose, a seguir para Albany. Poe acompanhou-a até ali, depois a Boston, e dali a Providência, em Rhode Island, onde, num passeio solitário, tarde da noite, viu pela primeira vez uma tal Sra. Helen Whitman, com quem mais tarde tratou casamento.

O segundo poema chamado "A Helena" celebra esse encontro. Lowell visitou Poe em Nova York, na primavera de 1845, e encontrou-o levemente embriagado, nos seus aposentos da Broadway, 195, para onde ele se havia recentemente mudado. Em julho, o Dr. Chivers também o visitou e viu-o, certas vezes, sob a influência do álcool, mas, não obstante, com as características de seu gênio.

Os negócios de Poe, a despeito de sua crescente fama, não prosperavam. Publicou uma série de artigos no Godey's Lady's Book, sobre os literatos de Nova York. Eram esboços pessoais, combinados com os obiter dicta do autor e um traço de crítica literária, que causaram considerável rumor naquele tempo e, em um ou dois casos, envolveram Poe em questões pouco dignas.

Os "Artigos Sobre os Literatos" não pertencem á crítica literária mais séria de Poe, mas são essenciais como um comentário fácil e contemporâneo sobre pessoas que ele conhecia, a maior parte delas obscuras. Em fins de 1845, apesar de seus desesperados esforços, o Broadway Journal faliu, deixando seu redator, e já naquele tempo seu único proprietário, endividado, desanimado e doente. Virgínia, sua mulher, continuava a definhar e aproximava- se da morte. Poe achava-se, mais uma vez, sem meios de vida. Entretanto, tinha- se mudado de novo para a Rua da Amizade, n.0 185. Uma infeliz conferência em Boston, no outono daquele ano, tinha proporcionado uma oportunidade a Poe, então em sério estado nervoso, de fazer mais ou menos uma exibição de si mesmo.

O caso foi aproveitado pelos seus inimigos de Nova York, que o exploraram muito. Tudo isso contribuiu para aumentar sua depressão. Apesar disso, porém, conseguira dar a lume, em junho de 1845, seus Contos, coleção de 39 estórias suas, selecionadas por E. A. Duyckinck, hábil editor, e publicada por Wiley & Putnam. Seguiu-se-lhe, em dezembro de 1845, O Corvo e Outros Poemas, seleção de seus versos, editada pelo mesmo livreiro. Na série de trabalhos de Poe surgidos durante sua vida, constituem estes dois, respectivamente, os livros oitavo e nono.

Os Contos foram, em alguns casos, publicados em dois volumes e ambas as edições obtiveram pouco êxito. Ao mesmo tempo, sabia-se que Poe estivera a trabalhar numa antologia de vários escritores americanos, em que se ocupava de vez em quando, durante vários anos. Nunca foi publicada, embora existam alguns fragmentos do manuscrito. Os negócios de Poe e a saúde do Virgínia urgiam mais uma vez uma mudança para o campo.

Enquanto Poe viajava para Baltimore, a fim de fazer conferências, na primavera de 1846, a Sra. Clemm e Virgínia foram de novo passar uma temporada na fazenda de Bloomingdale. Poucas semanas depois, encontramos a família toda, numa casa de fazenda, na "Baía da Tartaruga", atualmente Rua 47 e East River. A estada ali foi breve. Poe alugou uma casinha de campo de madeira em Fordham, então uma pequena aldeia, a cerca de quinze milhas de Nova York, e para ali a família se mudou, em fins de maio de 1846.

Na casinhola de Fordham, ainda conservada como relíquia no Parque de Poe, na cidade de Nova York, o poeta e sua bondosa sogra, Maria Clemm, sofreram juntos os extremos da tragédia da pobreza, da morte e do desespero. O verão de 1846 foi amargurado por uma violenta briga com um tal T. D. English, a quem Poe havia atacado azedamente nos "Artigos Sobre os Literatos". English então replicou e depois de um encontro pessoal com Poe acusou-o de falsificação, no Mirror, de Nova York. Poe processou o jornal e conseguiu receber pequena quantia como indenização, em fevereiro de 1847.

A saúde de Poe era excepcionalmente má. Sua mulher continuava a definhar rapidamente e ele próprio nem podia escrever bastante nem obter emprego. Durante a maior parte do tempo, a Sra. Clemm, graças a vários artifícios e ardis, conseguiu alimentá-los. Ela, ao mesmo tempo, pedia emprestado e mendigava e viu-se mesmo reduzida à necessidade de cavar legumes, à noite, nos campos das fazendas vizinhas.

Com a chegada do tempo frio, as visitas de amigos e pessoas curiosas da cidade cessaram e os Poe foram deixados sozinhos, em face dos rigores do inverno, sem combustível ou suficientes roupas e alimentos. Sob tais rigores, Virgínia definhava rapidamente. Jazia numa cama de palha, enrolada no capote de seu marido e com um gato de estimação no colo, para fornecer-lhe calor. Em dezembro de 1846, a família foi visitada por uma amiga de Nova York, a Sra. Maria Luisa Shew, que encontrou Virgínia moribunda e Poe e sua "mãe" sem recursos.

Graças à sua bondade e um apelo público pelos jornais, as necessidades imediatas da família foram aliviadas e Virgínia pôde morrer em relativa paz, nos fins de janeiro de 1847. Foi enterrada em Fordham, mas depois removida para o lado de seu marido, em Baltimore.

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