terça-feira, 23 de novembro de 2010

O CORVO - NOTA PRELIMINAR + Poe Art 9 by Kaelycea


A data de 29 de janeiro de 1845 marca a entrada definitiva de Edgar Allan Poe no
Panteão dos poemas imortais. Foi naquele dia o Evening Mirror publicou o poema
The Raven ("O Corvo"), que ficou perenemente ligado ao nome de seu autor, como
a Divina Comédia, ao nome de Dante, Os Lusíadas, a Camões, e As Flores do Mal,
a Baudelaire.


Como todos os poemas de Poe, "O Corvo" é um poema longamente trabalhado.
Há provas de que levou uns quatro anos com a fatídica ave empoleirada na mente
como empoleirada estava no busto de Minerva que figura no poema.

Quando os leitores da poesia, sob a influência do impacto emocional que ela lhes
causava, perguntavam a Poe como tivera a inspiração de tema tão intenso e tão
impressionante, o poeta, seguindo conhecido pendor seu de mistificador, dava
logo a entender que não houvera inspiração alguma, que tudo fora trabalho lógico,
desenvolvido pouco a pouco.

E após a publicação e o êxito enorme obtido pelo
poema, ele próprio tratou de provar como escrevera a poesia no seu famoso
ensaio A Filosofia da Composição.


Muitos não quiseram dar crédito ao que Poe confessava e achavam que a
intensidade do tratamento dado ao tema era um sinal de uma forte imaginação, de
uma rica inventiva, de uma inspiração ; criadora de grande ímpeto e vigor. A
observação feita pelo biográfo de Edgar Poe, Hervey Allen, é que parece mais
cabível para explicação do caso. Diz ele em Israfel, sua grande biografia de Poe:

O longo período em que decorre a composição de "O Corvo", periodo de quatro anos pelo menos, mostra que, no arranjo e composição dele, se processou grande quantidade de pensamento crítico, de análise artística , um arranjo lógico de efeitos e uma construção esmerada da narrativa central que nenhuma emoção simples poderia ter proporcionado. Nele é o plano deliberado dum contratema musical e os efeitos de assonância, rima e metro que mostram um conhecimento profundamente raciocinado da arte poética. Não pode haver a menor dúvida de que as imagens, em muitos casos engendram, aparentemente ao mesmo tempo, as palavras e os ritmos com que se exprimem. Mas afirmar que Poe era bastante artista para fabricar com êxito durante a longa elaboração do poema, aquelas partes em que tal inspiração não ocorria é apenas dizer que ele era um admirável poeta. Nenhum cantor lírico o igualaria nessa tarefa.
Em "Como Escrevi O Corvo", uma parte deste processo de raciocínio é bastante
acentuada sobre uma base crítica. Há valor nisto. Todo o assunto pode ser
geralmente resumido, dizendo-se que a escolha do material foi involuntária, mas
seu método de tratamento um um processo crítico, altamente raciocinado. Acima
e além de tudo isto, permanece o fato de que, no Corvo", a perfeita fusão desses
dois processos tornou-se uma unidade que resultou numa obra de arte. O
espectro do nada tinha sido dotado de uma forma memorável.

Com muita ou pouca inspiração, com muita ou pouca lógica, o certo é que o poema
se tornou famoso no mundo inteiro, provocando traduções em várias línguas e
várias na mesma língua, inclusive muitas em língua portuguesa, dentre as quais

[Video] The Raven (O Corvo) narrado por Christopher Walken
O Corvo [português--inglês] The Raven
[ainda vamos postar mais]


Poe gozou o prazer indizível de identificar-se com a sua própria criação .
Trajando sempre roupas escuras, negras mesmo, ao aparecer
nos salões onde declamava o tétrico poema, identificavam-no com a ave pressaga.
Podemos imaginar quanto lhe era isso agradável.

O fato é que ele produzira um desses poemas imortais que ficam perpetuamente na
memória dos homens. Soube compô-lo com habilidade extrema, dosando muito
bem todos os efeitos, lançando mão de todos os artifícios que a arte poética lhe
proporcionava.

E é assim que, pelo ritmo, cadenciado, quase que isocronicamente;
pelas rimas interativamente espalhadas adentro do próprio poema, e, mais do que
tudo, pela atmosfera criada, conseguiu ele dar visão córporea àquelas sensações
angustiadas de medo, de pavor, de preságio fúnebre, que sempre lhe atenazaram a
mente e que palpitam toda a sua obra através de toda a sua vida.

A atmosfera é quase tudo nesse poema admirável e ela é como que metida
tenebrantemente em nosso espírito pelo reiterado estribilho do "Nunca mais", que
soa em todo o poema como um dobre fatídico de finados. Já se demonstrou que
outros poetas antes dele utilizaram o efeito impressionante desse "Nunca mais".
Nenhum, porém, como Poe lhe deu aquela intensidade de pesadelo que se irradia
dos seus versos.
União admirável de inspiração e de arte, ficou ele para todo o
sempre na história literária do Ocidente como um raro momento em que emoção e
pensamento se uniram para gerar essa coisa imortal que é a beleza.

Um comentário:

Rart og Grotesk disse...

olá!!tudo certo? obrigado pela dica que colocou no meu blog!!bem legal, valeu mesmo!