sexta-feira, 4 de maio de 2012

Poe + O Corvo + Literatortura

Quem gosta de literatura e cultura em geral não pode deixar de conhecer o site Literatura.
Críticas inteligentes e bem construídas, novidades em geral, sempre atualizado.
Ninguém mais ninguém menos que Edgar Allan Poe que foi tema da seção A Hora do Poema da semana passada, isso só pra dar um gostinho.
Vale a pena conferir.

Edgar Allan poe, o escritor mais carismático que esta terra já viu [óbvio, na minha opinião. E neste sentido aqui; Que sabe seduzir as multidões, que goza junto delas de um grande prestígio. Poe não é apreciado apenas pelos seus escritos. Mas pela sua conturbada e insana vida. Poucos escritores são tão unânimes e apreciados como ele. Há um respeito em citá-lo, um silêncio admirador quando “Edgar Allan Poe” entra em discussão. Seja por O Corvo, seja pelo Gato Preto ou pelo detetive Dupin. Poe [na minha opinião, mais do que Byron [e explico porque]] é o estereótipo do poeta. Esquisito, louco, decepcionado e óbvio, genial com as palavras. Conhecedor de uma técnica absurda. Estudioso entusiasmado de tudo aquilo que lhe interessava [algo que pode-se perceber no próprio O Corvo: “Eu, ansioso pelo sol, buscava/ Sacar daqueles livros que estudava”. Tentarei dizer porque acredito ser Poe mais “poeta” do que Byron [não em obra, mas em “personalidade”]; Byron, pelo que consta em suas biografias, fazia diferente por justamente querer ser diferente. Dava festas absurdas, fazia ménages por querer ser diferente [óbvio que isso já fazia ele diferente, mas...]. Poe era diferente. Diferente de uma maneira trágica. Sem pedir para ser. [por favor, não estou rebaixando Lord Byron – o qual tenho profunda admiração -, estou apenas expondo uma observação pessoal].

Outra coisa me agrada em Poe é sua profunda sinceridade quanto a obra. Em, A Filosofia da Composição, onde também fala do poema “O Corvo”, ele descreve minunciosamente sua maneira de compor a obra. Afirma, sem deixar margem nenhuma para questionamento, que seu trabalho não é acidente, intuição, inspiração do momento, “poesia do coração”. Pelo contrário, foi criado com uma rígida precisão. Tal como se resolvesse um problema matemático. Quero deixar claro que isso não desmerece a poesia – como julgam alguns -. Pelo contrário, a exalta. Pois é preciso o uso da arte e da lógica[técnicas] para criar um poema [conto, novela, livro] memorável. É necessário uma reflexão acerca do que foi escrito [diferente daquilo que pregam muitos artistas profissionais; “ai, fui guiadu pelo meu core. Eu sou assim; um mistu de inspiração com poesia”. Essas coisas só servem pra entrevista. Na prática, nem alguns poemas de Fernando Pessoa, que muitos julgavam ser feito no calor da inspiração, eram, de fato, “coisa do momento”. Isso faz apenas parte da lenda do genial poeta português.

E não falei dele sem querer. Muitos sabem que há, entre várias, duas traduções que se destacam de O Corvo. A do próprio Fernando Pessoa e a do brasileiro mais importante da literatura; Machado de Assis. Eu, particularmente, escolhi a de Machado, pois prefiro a versão dele. Deixo claro que é uma escolha completamente pessoal e ‘arbitrária’. Não há nenhuma comparação ou parâmetro técnico. Apenas o meu gosto mesmo haha. [Selecionei a parte final, pois o poema é demasiado grande. Linko-o integralmente abaixo]



Tradução FERNANDO PESSOA
Tradução MACHADO DE ASSIS [ÁUDIO]


O corvo tem uma musicalidade perceptível ao longo de todo o texto. Sua métrica é exata e perfeita [dentro daquilo que o autor propõe]. As rimas são sempre apropriadas e usa-se de combinações fonéticas para a criação de um ritmo constante [que só ajuda na propagação do tom do conto; triste, lamurioso]. É difícil não captar a insanidade do eu lírico. Não necessariamente por ele falar com um corvo [oi?!], mas pelas coisas que são ditas. Pela dualidade constante; “ave ou demônio; profeta ou o que quer que sejas”. Profeta, demônio?

Além disso, a intimidade que o eu lírico cria com o leitor é palpável. Percebe-se que ele está ali. Ele é o poema. Não há nada escondido. Não há tentativa de ludibriar ou de disfarçar uma faceta. O eu-lírico diz; “esse sou eu” E sinceramente, se você o aceita ou não, pouco importa.

O tão famoso “nevermore” [nunca mais] do Corvo é, diretamente ligado ao fato de que; o eu-lírico jamais esquecerá Leonora, jamais se acalmará, jamais a beijará e também, que o próprio corvo jamais o deixará. Se entendermos que o Corvo simboliza a morte, vemos a morte como a eterna companhia do eu-lírico. Ele que já era louco, desvairado, sozinho, perdido, agora é semi-morto. E talvez, estar nesse estado seja pior do que ter morrido de fato. Vários críticos, inclusive Umberto Eco, dizem que as falas do Corvo vão muito além do que conseguimos descrever. É preciso senti-las através do contexto da poesia. Pois só assim entenderíamos – jamais explicar – o que elas significam tanto para nós quanto para o poeta.

O Corvo de Poe é assim; Criado como arte, apoiando-se na mais pura lógica, dentro da cabeça de um dos maiores gênios. O resultado, ilogicamente, é a dificuldade em descrever todas as nuances e detalhes de um dos poemas mais fabulosos já escritos. Saber que até a palavra “nevermore” foi escolhida a rígido dedo por causa de “[...] o longo como sendo a vogal mais sonora, acompanhado do r, a consoante mais producente” (POE, 2008, p. 23) e transformada em refrão pelo impacto já comprovado.

Esse com certeza foi o poema mais difícil de se comentar. Tanto pelo seu tamanho, quanto pela complexidade. Não consegui abarcar nem um terço daquilo que ele representa. No entanto, Poe como a “cara” do literatortura, merecia estar aqui. E acho válido, pois o texto contém informações interessantíssimas acerca da obra do gênio norte-americano. Que, obviamente, não é maior escritor [pelas obras], mas é o mais escritor [por quem foi, por como viveu e pelo que representa].
Créditos:
Áudio da narração: librivox.org
Texto originalmente por: literatortura.com

Um comentário:

Anônimo disse...

edit